Princípio da Não Violência

Enxergando a violência estrutural

Que tal ampliar e aguçar o olhar sobre a violência estrutural? Ela está tão enraizada na cultura brasileira que, muitas vezes, torna-se banal, apesar de impactar diretamente a vida de milhares de pessoas, sobretudo dos empobrecidos por um sistema excludente, que tem como marca principal a desigualdade social, produzida por um modelo de organização em que as práticas privilegiam um grupo específico, minoritário e detentor do poder.

Quando nos referimos à violência estrutural, não estamos falando daquela violência que está estampada e se manifesta, por exemplo, em ações como um soco ou o disparo de um tiro. Estamos falando de algo que é “invisível”; e, quando nos “acostumamos” com essa violência, acabamos por nos omitir e nos tornamos parte do problema.

A seguir, podemos ver um iceberg, que ilustra a visibilidade de cada tipo de violência na sociedade.

Violência direta

Consiste no uso intencional da força física ou do poder, ameaçado ou efetivo, contra si mesmo, outra pessoa, grupo ou comunidade, que resulte ou tenha uma alta probabilidade de resultar em ferimentos, morte, dano psicológico, deformações ou privação. Na violência direta, é possível identificar a origem ou a fonte da prática da ação, bem como as vítimas. Ela precisa ser intencional, mas não necessariamente é efetivada fisicamente. A intimidação e a ameaça também constituem formas de violência direta pela assimetria de poder. A OMS identifica ainda quatro tipos diferentes de dano que a vítima da violência pode sofrer: físico, sexual, psicológico ou de privação/negligência. As formas de medir a violência direta são aquelas com as quais mais estamos familiarizados – estatísticas de números de homicídios, estupros, sequestros, roubos estão entre as métricas mais usualmente utilizadas.

Violência cultural

Não precisa aparecer como causadora direta ou indireta da violência, mas como legitimadora ou justificadora de uma violência. Invisível, pode ser um elemento da ideologia, da linguagem, da religião ou da arte e se perpetua através dos preconceitos, causadores de discriminação e exclusão. Os múltiplos preconceitos – de gênero, de cor, de classe, de religião, etc. – concretizam-se como uma forma simbólica de pensar e agir na qual se legitima o menosprezo, a manipulação, a subordinação e segregação do outro, a partir de um sentimento de superioridade autocentrado – e nunca verificado.

Violência estrutural

A violência estrutural é um processo que causa diferenças nas chances de vida das pessoas sem que necessariamente exista uma intenção violenta e um agressor bem definidos. Segundo Johan Galtung (2003), o pesquisador norueguês define como uma violência que não é praticada por um agente concreto com o objetivo de infligir sofrimento, mas é gerada pela própria estrutura social, sendo as suas formas mais relevantes a repressão, em termos políticos, e a exploração, em termos econômicos. Expressa-se na desigual distribuição do poder, em oportunidades desiguais, na discriminação e na injustiça. A forma mais intuitiva de medi-la é a comparação entre diferentes expectativas de vida de diferentes setores da sociedade, conforme a posição social que cada um ocupa. Ou seja, o tempo de vida dos indivíduos está diretamente ligado aos benefícios (e privilégios) que possibilitam qualidade de vida e bem-estar a uma população.

Segundo Johan Galtung (2003), a violência pode começar em qualquer vértice do triângulo das violências direta-estrutural-cultural, ilustrado no iceberg, e ser facilmente transmitida para os outros vértices. Com a estrutura violenta institucionalizada e a cultura violenta internalizada, a violência direta também tende a se tornar presente de forma repetitiva e ritualística.

ATIVIDADE 1 - Identificando os tipos de violência

Agora, que tal treinar o olhar? Analise as situações descritas a seguir. Que tipos de violência estão sendo representadas? Selecione o tipo que considerar correto e, ao final, clique em Finalizar.

Todas as situações relatadas neste exercício são reais!

Além das situações de violência que acabamos de conhecer, poderíamos citar inúmeros outros exemplos no Brasil. Ouça o áudio e conheça outras formas de violência estrutural.

Baixe a transcrição do podcast a seguir e conheça outras formas de violência estrutural. Baixar transcrição.

Violência estrutural no Brasil

Para entender os muitos desafios da paz no Brasil, especialmente em contextos que produzem e reproduzem a injustiça, faz-se necessário ouvir a voz daqueles que vivem e convivem diretamente com a vulnerabilidade, experimentando situações de desigualdade.

A compreensão desse contexto é fundamental, pois somente por meio dela é possível o diálogo, a empatia, a ampliação e mudança dos pontos de vista e a generosidade. Conhecer, refletir, sentir e compreender é o que possibilita que a ação se dê de forma consciente, refletida e construtiva.

Saiba Mais

Neste vídeo, Martin Luther King esclarece o processo de marginalização dos negros nos Estados Unidos, que não ocorreu de forma muito diferente da que aconteceu no Brasil.

Aprendendo com a história

As reflexões de Martin Luther King nos fazem pensar no quanto precisamos alargar e aprofundar a compreensão da paz, entendendo-a como um imperativo individual e coletivo que viabilize a convivência, ao acolher o outro na sua dignidade e singularidade. Isso pode se dar através de políticas públicas de inclusão social e abertura de oportunidades para o protagonismo juvenil; de um setor empresarial operante e sensível às causas ecológicas e sociais; e, ainda, do engajamento da comunidade acadêmica para desenvolver conhecimentos em torno das novas tecnologias de convivência, com o objetivo de disseminar práticas potencializadoras de:

No quadro temos as palavras: Filosofia, Transformação, Escuta, Solidariedade, Jogos e dinâmicas de cooperação, Intervenção, Poder vinculante, Prevenção, Empatia, Rodas de conversa, Ética Relacional, Diálogo, Comunicação não violenta, Entendimento da condição humana.

Assim, precisamos adotar a não violência como estratégia de vida!

Você conhece outros exemplos inspiradores no uso de estratégias fundadas no princípio da não violência para enfrentar a violência estrutural?

Atividade 2 – Personalidades não violentas

Veja as descrições a seguir, selecione o nome correspondente para completar os textos e clique em Confirmar.

Saiba Mais

Para saber mais a respeito dessas personalidades, você pode ler as obras:

  • Os melhores discursos de Martin Luther King: um apelo à consciência.
  • A autobiografia de Martin Luther King.
  • Betty & Coretta.
  • Madiba: the life and times of Nelson Mandela.
  • Reconciliação: o milagre de Mandela.

Assistir aos filmes:

  • A história da não violência.
  • Invictus
  • Mandela: son of Africa, father of a nation.
  • O mordomo da Casa Branca.
  • Selma.
  • The Rosa Parks story.

E ainda visitar:

  • Museu Nacional de Direitos Civis.
  • Memorial Martin Luther King.

Que outras lideranças que você conhece se nortearam pelo princípio da não violência para gerar melhorias para o bem-estar e o progresso social? Vamos conhecer mais algumas?

No TED Talks O segredo duma resistência não violenta e eficaz, a ativista não violenta Jamila Raqib apresenta alguns exemplos recentes da aplicação de diversas técnicas não violentas contra a violência estrutural.

Saiba Mais

Clique aqui para assistir ao TED Talks mencionado.

Saindo da passividade e revolucionando pacificamente

As tecnologias de convivência e de transformação pacífica dos conflitos oferecem meios para que estes sejam vistos como oportunidades de aprendizagem, inovação e progresso social. Para Jean-Marie Muller, em O princípio da não violência:

“A não violência é uma atitude diferente da covardia [...]. Ela é a atitude ética e espiritual do homem vivo que reconhece a violência como a negação da humanidade e que decide recusar submeter-se à sua dominação. [...] aquilo que a ação não violenta visa é criar as condições que permitam ao adversário que escolheu a violência mudar de atitude. [...] agir sem violência é canalizar a agressividade natural aos indivíduos de forma justa e pacífica. [...] criando condições para o diálogo, estabelecendo uma nova relação de força que obriga o outro a reconhecer-me como interlocutor necessário”.

MULLER, 2007

Assim, para combater a violência estrutural é necessário:

  • Reconhecer que qualquer situação de opressão só se perpetua se há cooperação por parte dos oprimidos.
  • Mudar a atitude interna de passividade, gerando respeito próprio, dignidade e coragem.
  • Ter determinação para deixar de obedecer ou submeter-se, apesar das represálias que isso possa acarretar.
  • Unir-se a outras pessoas que compartilhem ideais e estejam abertas a cocriar um futuro novo, mais justo e igualitário.

As estratégias não violentas devem ser colocadas em prática quando:

Não existirem espaços para diálogo e negociação.

Favorecerem o bem-estar da coletividade.

Forem direcionadas a um sistema, e não a uma pessoa.

As demandas forem concretas, verificáveis e realistas.

Vejamos os princípios e as estratégias não violentas.

Quer conhecer mais métodos não violentos?

Gene Sharp é o maior especialista do mundo em revolução não violenta e teórico indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

Ele comanda o Instituto Albert Einstein, em East Boston, que tem como diretora-executiva Jamila Raqib e foi fundado em 1983 para disseminar o conhecimento da luta não violenta. Sharp dedicou sua vida ao estudo de formas de combate aos governos autoritários sem que seja necessário apelar para a guerra.

Dentre os vários direcionamentos dados por Sharp, um é especialmente atual:

Superar a polarização.

Gene Sharp

A polarização ocorre quando se isolam os indivíduos e se antagonizam as opiniões. É uma das principais maneiras de sistemas totalitários tentarem controlar a população. Eles fazem todos temerem uns aos outros, impedindo vínculos de confiança, propósito e colaboração.

Saiba Mais

Clique aqui para acessar a obra de Gene Sharp.

Assista ao vídeo a seguir para saber como aplicar os exemplos de não violência que conhecemos aqui.

A paz não é, não pode ser nem nunca será a ausência de conflitos, mas a gestão e a resolução dos conflitos por meios diferentes da violência destruidora.

MULLER (2007)

O conflito é parte do processo de mudança, portanto, não deve assustar ninguém. O que deve nos preocupar é a indiferença, o silêncio e a omissão frente às injustiças que ocorrem diante dos nossos olhos, nas nossas salas de aula e nas nossas equipes.

Os conflitos saem do controle e podem ficar maiores quando são negligenciados e não resolvidos. Do ponto de vista da não violência, a intensidade de um conflito não é necessariamente uma questão de quantas armas ou quantas pessoas estão envolvidas, mas diz respeito, principalmente, ao grau de desumanização que pode estar presente.

Se alguém em uma relação não ouve, tem atitudes como xingar ou violentar, provavelmente é tarde demais para o diálogo. Para atuar nessas situações, podemos pensar numa escalada de três estágios que exigem formas distintas de respostas.

Observe o gráfico e clique nos numerais para conhecer esses estágios.

Estágio 1: Resolução de conflitos

O ideal seria sempre atuar no início dos conflitos, quando ainda não há uma situação de desumanização envolvida. Neste estágio, as diferenças podem ser resolvidas usando as ferramentas mais conhecidas de resolução de conflitos ou a comunicação não violenta.

Se um dos lados envolvidos sinalizar o problema, o outro lado ao menos poderá ouvir.

Entre as ferramentas que funcionam no estágio 1, estão o diálogo, a negociação, a mediação e a arbitragem.

Estágio 2: Satyagraha

Os conflitos nem sempre são manejáveis. Há momentos em que aqueles que nós queremos persuadir não são alcançáveis através da escuta e da razão. É quando a satyagraha entra em ação, por meio de ações como greves, ocupações, petições e desobediência civil.

Muitas vezes, isso significa estar disposto a assumir algum sofrimento para poder despertar os opositores para a injustiça que estão cometendo.

Como disse Gandhi: “As coisas de fundamental importância para as pessoas não são garantidas apenas pela razão, mas pelo afeto... Se você tem algo realmente importante a ser feito, você não deve meramente satisfazer a razão, mas o coração igualmente”.

Estágio 3: O sacrifício supremo

O estágio 3 é uma extensão do estágio 2, mas aqui as coisas alcançam uma intensidade de “vida ou morte”. Isso significa que nós tentamos as técnicas usuais de satyagraha, mas nosso oponente não está respondendo a elas.

Se não podemos viver com uma injustiça, podemos arriscar nossas vidas para corrigi-la. Leia essas palavras cuidadosamente: “Não é morrer que pode despertar um oponente obstinado tanto quanto estar disposto a arriscar morrer”. Foi isso que aconteceu no momento de “vida ou morte” da fase final da luta pela liberdade indiana, e o lema funcionou.

Em situações de conflito é comum a vontade de envergonhar ou punir os autores das ações violentas. Porém, é preciso reconhecer que todos têm um ponto de vista, emoções e necessidades que precisam ser ouvidas. Este comportamento deve ser treinado e cultivado.

No vídeo a seguir conheceremos cinco práticas básicas no treinamento da não violência, que contribuem para manter altos índices de humanização.

Enfrentando a violência por meio de redes comunitárias

O objetivo final de todos que promovem a não violência não é simplesmente derrubar uma ideia opressiva, mas substitui-la por algo positivo. Nada ajuda a desestabilizar mais um sistema indesejado, que construir um almejado.

A longo prazo, um programa construtivo e propositivo é o que mantém os movimentos conectados, impedindo a sua desmobilização diante dos desafios inesperados.

Essas são vantagens estratégicas que estão assentadas no fato de que a não violência, como força positiva, se presta mais a “cooperar com o bem”, como diria Martin Luther King, do que a “não cooperar com o mal”, embora isso também tenha seu lugar.

Um programa construtivo com propostas claras e bem desenhadas facilita sua implementação, pois evita o vácuo que surge do desmoronamento da dinâmica anterior.

A confiança nas pessoas

“Para construir uma paz sustentada é necessário encontrar formas de criar oportunidades para que as pessoas possam ter uma vida decente”, diz o economista bengali, ganhador do Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus. Para ele, a confiança nas pessoas é o primeiro passo para a criação das oportunidades.

Sua história é sustentada pela força da rede de pessoas que o banco criado por ele apoiou, oferecendo microcrédito para milhões de famílias, em especial para mulheres pobres. A partir de algumas oportunidades baseadas na confiança, as pessoas conquistaram autonomia e mudaram para melhor suas vidas, a vida de seus filhos e de suas comunidades.

Dica

Você pode conhecer outras iniciativas de empreendedorismo social no filme Quem se importa.

Como vimos, as variáveis ética e colaboração são intrínsecas ao princípio da não violência e não podem existir sem o desenvolvimento de atividades que promovam, antes, a compreensão mútua, o fortalecimento de vínculos e a empatia. A crueldade humana ou mesmo a indiferença se manifestam quando os indivíduos só se preocupam consigo mesmos e não se identificam com os pensamentos ou sentimentos do outro.

Os desafios da contemporaneidade exigem articulação comunitária. Charles Fadel, de Harvard, menciona seis desafios com os quais precisamos lidar:

Desafio da volatidade, incerteza, complexidade e ambiguidade - O mundo está ficando cada vez mais complexo, o que torna mais difícil prever e gerir as transformações e os conflitos.

Desafio da velocidade de transformação - A era exponencial exige dos indivíduos conhecimentos amplos e especializados ao mesmo tempo.

Desafio da tecnologia e automação - Os empregos e relacionamentos do futuro serão cada vez mais robotizados.

Desafio da educação globalizada - A educação precisa contemplar a velocidade das conexões, as redes de conhecimento e as diferenças do mundo em um ritmo acelerado.

Desafio da sustentabilidade - Em um mundo em que a população cresce de forma desproporcional em relação ao que a natureza é capaz de fornecer, vemos os lugares cada vez mais poluídos, desiguais e tóxicos.

Desafio da ganância - É preciso reduzir fundamentalismos econômicos e religiosos, o terrorismo e o absolutismo político.

Redes de apoio

Você já ouviu falar no físico e teórico de sistemas Fritjof Capra? Ele afirma:

A vida não vingou no planeta através do combate, mas através da parceria, do compartilhamento e do trabalho em rede.

CAPRA (2002)

Formar redes de apoio vem sendo uma prática eficaz na mobilização de pessoas para dar conta das suas necessidades, contextos e desafios. Inicialmente restritas ao terceiro setor, as redes hoje são onipresentes, como usinas de solidariedade, que se constroem a partir da soma de talentos e capacidades, em pequenas ações organizadas.

As redes de apoio emergiram nos últimos anos como um padrão organizacional capaz de expressar, em seu arranjo de relações, ideias políticas e econômicas inovadoras, nascidas do desejo de resolver problemas atuais complexos. São a manifestação social, a tradução em padrão organizacional de uma nova forma de conhecer, pensar e estar no mundo.

Podemos comparar a rede à natureza, que estabelece relações, liga átomos, células, órgãos e seres, possibilitando a renovação e atualização permanente do vivo.

Necessidades comuns criam objetivos comuns, que, quando articulados, planejados e gerenciados de modo saudável, provocam mudanças substanciais nas famílias, nas organizações e na sociedade.

A estrutura horizontal em rede apresenta alguns benefícios, entre os quais estão:

Romper com as relações tradicionais, piramidais, de poder e de representação, possibilitando vivenciar nas relações sociais e políticas as ideias e princípios democráticos.

Expressar o poder pessoal – tradicionalmente vivido como poder sobre os outros ou sobre as coisas – como potência para realizar objetivos compartilhados.

Para tanto, faz-se necessário um esforço individual e coletivo para a superação da cultura autoritária, pois nas redes não há um centro, uma ideologia, um credo, um regente ou líder carismático.

Os movimentos ambientalistas, feministas, pelos direitos humanos, pela paz, contra o terrorismo ou a corrupção estão articulados em redes colaborativas que ultrapassam as fronteiras nacionais, conectando milhões de pessoas do mundo todo.

A tecnologia potencializou essa capacidade, mas são as características intrínsecas à organização em rede que possibilitam o engajamento e a mobilização.

São elas:

  • Objetivos compartilhados, construídos coletivamente.
  • Múltiplos níveis de organização e ação.
  • Dinamismo e intencionalidade dos envolvidos.
  • Coexistência de diferentes.
  • Produção, reedição e circulação de informação.
  • Empoderamento dos participantes.
  • Desconcentração do poder.
  • Multi-iniciativas.
  • Tensão entre estruturas verticais e processos horizontais.
  • Tensão entre comportamentos de competição, cooperação e compartilhamento.
  • Composição multissetorial.
  • Formação permanente.
  • Ambiente fértil para parcerias, oportunidade para relações multilaterais.
  • Evolução coletiva e individual para a complexidade.
  • Configuração dinâmica e mutante.

Participar de uma rede, vivenciando verdadeiramente seus princípios, representa uma revolução política e cultural, uma nova forma de organizar a vivenciar o poder de uma forma descentralizada.

Vimos o grande alcance que as redes colaborativas podem ter. Agora conheça os princípios que regem o trabalho em padrão organizacional de rede:

No quadro temos as palavras: Autonomia, Insubordinação, Descentralização, Conectividade, Interdependência, Multiliderança, Cooperação, Transparência, Horizontalidade.

Os autores David Johnson e Ladislau Dowbor fizeram importantes considerações sobre as redes:

Uma vez que a análise de redes é, em essência, um meio de representação de padrões de vínculos, as qualidades desses relacionamentos determinam em grande medida os modelos a serem seguidos pelos seus integrantes. Portanto, a satisfação geral de um indivíduo com os vínculos que estabelece pode afetar a frequência e a duração dos mesmos. Para a função de ligação, um fator relacional e de fundamental importância é a abertura, geralmente concebida como uma disposição para dar ou receber informações. Para que a informação flua livremente em uma organização, é crucial que os participantes da rede mantenham uma comunicação aberta típica das relações de confiança.

David Johnson (2011)

É no nível local que se podem realmente identificar com clareza as principais ações redistributivas. Essas ações dependem vitalmente de soluções locais e momentos políticos, e as propostas demasiadamente globais simplesmente não funcionam, na medida em que enfrentam interesses dominantes organizados e complexidades políticas que inviabilizam os projetos.

Ladislau Dowbor

Saiba Mais

Para saber mais sobre as dinâmicas em rede, assista a este episódio do programa Café Filosófico, em que o especialista Augusto de Franco apresenta conceitos, princípios e estratégias.

Você sabia que, durante quase 20 anos, o Senac São Paulo fomentou a articulação de redes sociais comunitárias?

O objetivo era o desenvolvimento sustentável dos bairros onde suas unidades estão inseridas. A metodologia alcançou a formação de 37 redes em 2017, atuando em 200 comunidades do estado. O fim do programa institucional não extinguiu a importância das relações comunitárias. Ao contrário, estimulou que os relacionamentos fossem estreitados a partir do diálogo e do planejamento coletivo dos Projetos Políticos-Pedagógicos das unidades educacionais.

Cultivando a paz por meio da educação

Os movimentos de cultura de paz propagam valores humanistas e têm como fontes inspiradoras o Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não-Violência, elaborado por um grupo de ganhadores do Prêmio Nobel da Paz juntamente com a Organização das Nações Unidas e a Unesco.

Reconhecendo a cota de responsabilidade de cada um com o futuro da humanidade, especialmente com as crianças de hoje e das gerações futuras, cada indivíduo deve se comprometer, em sua vida diária, em sua família, no seu trabalho, na sua comunidade, no seu país e na sua região, a:

Respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito.

Praticar a não violência ativa, rejeitando a violência sob todas as suas formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular contra os grupos mais desprovidos e vulneráveis, como as crianças e os adolescentes.

Compartilhar seu tempo e seus recursos materiais em um espírito de generosidade, visando ao fim da exclusão, da injustiça e da opressão política e econômica.

Defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, dando sempre preferência ao diálogo e à escuta no lugar do fanatismo, da difamação e da rejeição do outro.

Promover um comportamento de consumo que seja responsável e práticas de desenvolvimento que respeitem todas as formas de vida e preservem o equilíbrio da natureza do planeta.

Contribuir para o desenvolvimento de sua comunidade, com ampla participação da mulher e respeito pelos princípios democráticos, de modo a construir novas formas de solidariedade.

A atuação da cultura de paz se baseia em oito áreas:

1. Cultura de paz através da educação.

2. Economia sustentável e desenvolvimento social.

3. Compromisso com todos os direitos humanos.

4. Equidade entre os gêneros.

5. Participação democrática.

6. Compreensão, tolerância e solidariedade.

7. Comunicação participativa e livre fluxo de informações e conhecimento.

8. Paz e segurança internacional.

A educação tem sido a resposta quando as sociedades modernas pensam em práticas capazes de gerar transformações sociais profundas e pacíficas. Através dela acreditamos que podemos criar valores comuns, compartilhar métodos e práticas, valorizar a diferença e promover o diálogo.

Paz nas escolas

Para as escolas, o desafio de enfrentar as diversas formas de violência não deve se diluir na expressão “bullying”. Há violência entre grupos, disputas de lideranças, processos grupais de aproximação e isolamento, que não podem ser ignorados nem criminalizados.

São situações intensas em que se pode aprender a conviver, a aceitar diferenças e a ser inclusivo. Aprender a ser está intrinsecamente relacionado com aprender a conviver. Não basta reconhecer as diferenças, é preciso respeitá-las. O caminho da palavra e do diálogo deve levar para além da violência e do desprezo, para a integração, a participação e o acolhimento.

Em todas as situações em que se dá o processo de educação, seja em escolas, comunidades, grupos, o importante é garantir que a palavra e o argumento construam o ambiente de paz e cooperação, por meio do diálogo.

Ouça, a seguir, um trecho do livro Medo e ousadia: o cotidiano do professor.

Baixe a transcrição do podcast a seguir e veja um trecho do livro Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Baixar transcrição.

Diálogo

Em maio de 2018, a cultura de paz passou a fazer parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, incluindo, entre as incumbências de todos os estabelecimentos de ensino, a promoção da cultura de paz e de medidas de conscientização, prevenção e combate a todos os tipos de violência.

Saiba Mais

Para conhecer a Lei no 13.663, de 14 de maio de 2018, clique aqui.

E o que o Senac São Paulo tem a ver com isso?

A educação profissional pode ser um importante fator de interrupção dos ciclos de violência ao oferecer qualificação e trabalho decentes.

Além disso, tem papel fundamental e estratégico na construção de uma sociedade crítica e autogerida, protagonista do seu destino.

O Senac São Paulo ainda fomenta valores e princípios de não violência por meio de sua missão e seus valores institucionais, sua proposta pedagógica, seu regimento interno e suas marcas formativas, bem como, desde 2013, por meio de um programa institucional.

Com isso, contribui efetivamente para transitarmos de uma cultura de violência para uma cultura de paz.

Saiba Mais

Para saber mais sobre o princípio da não violência, assista:

Considerações finais

Você compreendeu a importância do princípio da não violência?

Ao longo da exposição deste conteúdo, pudemos conhecer as características desse princípio, atuações históricas de personalidades importantes que o praticaram com maestria, exemplos de situações de violência e formas de se comportar diante delas.

Acesse os materiais indicados e pratique a não violência!


Referências

CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002.

CARVALHO, Edgard de Assis et al. Ética, solidariedade e complexidade. São Paulo: Palas Athena, 1998.

CARVALHO, Eide M. Murta Carvalho. O pensamento vivo de Gandhi. São Paulo: Martin Claret, 1985.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CLAYBORNE, Carson (Org.). A autobiografia de Martin Luther King. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

EISLER, Riane. O poder da parceria. São Paulo: Palas Athena, 2007.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 12. ed. São Paulo: Paz na Terra, 1996.

GALTUNG, Johan. Gandhi hoje: o caminho é a meta. São Paulo: Palas Athena, 2003.

JOHNSON, J. David. Gestão de redes de conhecimento. São Paulo: Senac São Paulo, 2011.

MULLER, Jean-Marie. Não-violência na educação. São Paulo: Palas Athena, 2006.

______. O princípio da não-violência: percurso filosófico. São Paulo: Palas Athena, 2007.

SÉMELIN, Jacques. A não violência explicada às minhas filhas. São Paulo: Via Lettera, 2001.

TORO, José Bernardo; WERNECK, Nísia Maria Duarte. Mobilização social: um modo de construir a democracia e a participação. São Paulo: Autêntica, 2007.

VARMA, Ravindra. Gandhi: poder, parceria e resistência. São Paulo: Palas Athena, 2002.

ZAÜ; FRIER, Raphaële. Martin e Rosa: Martin Luther King e Rosa Parks, unidos pela igualdade. Rio de Janeiro: Pequena Zahar, 2014.