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HISTÓRIA

Escravidão Moderna X Escravidão Antiga

A escravidão é, de fato, tão antiga quanto a história humana e fez parte de culturas e civilizações por séculos. Entretanto, a escravidão negra, que se deu a partir do século XVI, teve características nunca vistas anteriormente, tanto que recebeu o nome de escravidão moderna, em oposição ao modelo anterior. Por isso, para entender a raiz do racismo estrutural, é importante entender as diferenças entre a escravidão antiga e a moderna.

Escravidão Antiga

A escravidão antiga acontecia entre diversas culturas, etnias e civilizações e nunca foi uma particularidade de uma única etnia ou grupo. Brancos, negros, árabes, asiáticos – diversos povos foram escravizados em diferentes contextos. Na Antiguidade, a escravidão acontecia devido a:

GUERRAS

Em algumas culturas, os vencedores de uma disputa podiam escravizar os derrotados sobreviventes.

DÍVIDAS

No contexto rural e feudal, era comum que se escravizassem pessoas e famílias para que pagassem com trabalho as dívidas adquiridas nos negócios envolvendo terras, grãos e ferramentas do campo.

CONQUISTA IMPERIAL

Povos conquistadores, como o do Império Romano, escravizavam os indivíduos que resistiam à conquista e à anexação aos impérios.

Escravidão Moderna X Escravidão Negra

Começou por iniciativa dos portugueses, em 1444, quando eles começam a adquirir escravos negros no Sudão. Foi se expandindo da costa atlântica da África para a maior parte do mundo. Esse tipo de escravidão é considerado diferente por ser inédito em diversos fatores:

PRIMEIRA ESCRAVIDÃO A SE BASEAR UNICAMENTE NO FATOR RACIAL E TERRITORIAL

Escravizavam-se os negros africanos e seus descendentes, ao contrário do que ocorria na Antiguidade, em que a escravidão em geral era resultado de guerras ou do não cumprimento de dívidas e não se baseava na particularidade de povos de um único território.

ÚNICA ESCRAVIDÃO QUE TEVE ALCANCE GLOBAL

Costuma-se dizer que a escravidão negra foi responsável pela primeira globalização – ela conectava o continente africano, o americano e o europeu em torno do comércio, de um modo nunca antes visto, já que a escravidão anterior não chegou a mobilizar nenhum continente inteiro em torno da exploração de um único tipo de povo e por uma única motivação.

LUCRO COMO PRINCIPAL MOTIVAÇÃO

Nas lógicas anteriores de escravidão, a lucratividade não estava posta, pois os indivíduos escravizados não eram categorizados como produtos. Na escravidão moderna, cada ser humano possuía um valor de mercado e gerava lucro para o comerciante de escravos, assim como para quem o adquiria. Nesse sentido, foi a primeira vez que um mercado motivado pelo lucro foi montado em torno do sequestro e da escravidão de seres humanos.

Por ser global, lucrativa, hereditária e concentrada apenas em povos vindos de um único continente, a escravidão moderna/negra foi o grande alicerce da colonização do continente americano e a principal via de acumulação e desenvolvimento do mercado, fatores necessários para o desenvolvimento do capitalismo. O mundo que conhecemos hoje foi gestado, desenvolvido, enriquecido e teorizado no tempo em que a escravidão dos negros era uma das principais bases da economia global. É por isso que, ao pensarmos o mundo atual, a escravidão moderna não pode ser ignorada, sendo sempre a mais citada.

Escravidão Moderna X Escravidão Indígena

A hierarquia racial começa a ser montada no século XVI, na era dos Grandes Descobrimentos. O processo de encontro do homem branco europeu com outros povos foi marcado por guerras, pilhagens, genocídio, etnocídio, dominação e imposição da cultura europeia a todos os conquistados. Nesse primeiro momento, a colocação da Europa como centro do mundo dá corpo para a primeira hierarquização entre os povos e territórios.

Com a escravidão moderna, novos elementos se somam a essa hierarquia, e o negro passa a ser identificado como parte inferior da sociedade, junto com os povos indígenas, os orientalizados e qualquer outro povo que não compartilhasse do mesmo arsenal cultural que a Europa promovia. No entanto, existem particularidades que diferenciam a escravidão dos povos nativos indígenas e dos negros.

Impactos da hierarquia racial no Brasil

Mas a escravidão já acabou há mais de 130 anos. Como ela pode impactar tanto os nossos dias?

De fato, a escravidão terminou há muito tempo, mas a hierarquia racial deixada por ela se estendeu e ainda persiste em nosso meio. No caso brasileiro, por exemplo, é importante conhecermos as medidas tomadas às vésperas do fim da escravidão e no pós-abolição para compreendermos como essa hierarquia se fixou em nossa sociedade por meio de ideias, leis e ações políticas voltadas à precarização do negro brasileiro. Vamos lá? Veja os destaques na linha do tempo, que abrange acontecimentos ocorridos entre 1800 e 1929.

EU.GE.NI.A (do latim eugenia)

substantivo feminino

  1. [Medicina] Biologia. Teoria que tenta criar uma seleção que, contendo o que está presente na espécie humana, se pauta nas leis da genética; eugenismo.
  2. [Por Extensão] Ciência que busca pesquisar o processo de aprimoramento genético da espécie humana.

(DICIO, 2020)

Saiba mais

Nem todos conhecem as relações de Monteiro Lobato com a questão racial. Para saber mais, acesse o livro Monteiro Lobato e o racismo, de André Nigri. Conheça também o artigo Literatura e Racismo, de Rodrigo Ribeiro.

Todos esses fatos históricos dialogam com os dados atuais: ainda hoje, os negros são a maioria entre os mais pobres, a maioria entre os que não têm acesso ao saneamento básico, os que mais morrem, a minoria no ensino superior e a maioria entre os desempregados e entre a população carcerária. Cada uma dessas estatísticas revela uma tendência que começou a ser estruturada há décadas, e que lutamos hoje para desconstruir.